segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Nem ser nem não-ser: o estatuto do inconsciente é ético!

Rejeitando qualquer denominação do inconsciente no plano ontológico, Lacan, no seminário 11, afirma: “o estatuto do inconsciente, que eu lhes indico tão frágil no plano ôntico, é ético” (Lacan, 1979:37). Ora, isso nada mais é do que tirar qualquer estatuto de ‘ser’ do inconsciente, colocando-o como aquilo que se mostra. E esta não deixa de ser senão a aposta de Freud ao inaugurar a psicanálise por meio do desejo da histérica, a partir de um não-saber sobre o feminino: o inconsciente se faz ver, o que concerne na postura ética do analista a ser tomada a partir disso.
Doris Rinaldi, em seu artigo ‘o inconsciente é ético’, se indaga: ‘como se dá esta passagem? Como o inconsciente se mostra?’ E retoma Freud, a título de resposta, no tocante ao sonho como via real de acesso ao inconsciente, com seus mecanismos próprios, a saber, a condensação e o deslocamento. É neste sentido que Lacan, em seu ensino, lança o axioma que tanto enfatiza ao longo de sua obra: o inconsciente é estruturado como uma linguagem, localizando-o, como frisa Doris Rinaldi, no campo simbólico. Trata-se, portanto, de um inconsciente como um saber, no que é ‘nem ser nem não-ser, mas algo de não-realizado’ (Lacan, 1979; 37).
Assim, ao estatuto de um inconsciente cujo saber escapa à consciência e que vem a supor um sujeito deste pensar, toda uma tradição filosófica com sua concepção de sujeito é posta em xeque.
Recorrendo a Freud podemos analisar a função do inconsciente; a fenda em que o algo se mostra, cuja aventura no campo da psicanálise se apresenta extremamente apressada. Como salientou Lacan (1979), trata-se de um instante, pois o segundo tempo, que é de fechamento, dá a essa apreensão um caráter evanescente. Ora, isso tudo se dá através das psicopatologias do cotidiano, dos sonhos, dos chistes, dos atos falhos ... Ele, o inconsciente, segundo Rinaldi, surge justamente nos cortes, nas descontinuidades do discurso comum, na outra cena que o sonho evoca, onde o desejo aparece sob a forma de enigma.
O 'aparecimento que logo depois desaparece' se faz entre dois pontos, a saber, o inicial e o terminal de um tempo que não é cronológico mais sim lógico. A respeito disso, Lacan discorre acerca desse tempo lógico, concernente ao desejo indestrutível, atentando para o fato de que é entre o instante de ver em que algo é sempre elidido, se não perdido, da intuição mesma, e esse momento elusivo em que, precisamente, a apreensão do inconsciente não conclui, em que se trata sempre de uma recuperação lograda.
Nessa articulação do inconsciente como o lugar onde o desejo se faz enigma, é a dimensão do Real que se lança, pois trata-se do não-realizado, mas que aguarda em espera querendo -ora!- nada mais do que se realizar. Segundo Rinaldi, se o real é o que ex-siste ao simbólico, ele, entretanto, insiste, na medida em que “não cessa de não se escrever” e, nesse sentido, pede simbolização.
Outrossim, é este o enigma que causa o desejo de Freud pela histérica no início da psicanálise; desejo este como a realidade tida pelos médicos da época como a ‘mais recusada, mais coberta, mais contida, mais rejeitada, a da histérica, no que ela é – de algum modo, de origem – marcada pelo signo do engano’ (Lacan, 1979; 40).
É, desse modo, ao Real que se direciona a afirmação de que o inconsciente é ético. Entretanto, como alerta Rinaldi, ‘não se pode, contudo, separar o real do simbólico, já que o que nos interessa como analistas é um sujeito que emerge quando uma verdade como traço de desejo faz o seu caminho’. Assim, é para este ponto que faz limite entre os registros simbólico e real que se faz valer a afirmação de um inconsciente ético, legado de suma importância de Lacan, direcionado a todos aqueles se prestam à prática analítica e que desejam sustentar a sua ética.

Encontros Temáticos de Psicanálise

Os e-ventos de psicanálise em Londrina, organizados pela  Psicanalista Sandra Regina Turke e pelo psicanalista e filósofo Daniel Omar Perez, são exatamente assim: ventos novos. E você não pode perder!
O Prof. Francisco Verardi Bocca (Filósofo/PUC/Curitiba) estará juntamente com o Prof. Daniel Omar Perez Filósofo/Psicanalista/PUC/Curitiba) no nosso "VII Encontro Temático em Psicanálise de Londrina" nesta sexta-feira, dia 04/11/2011, na sala de eventos/CCH/UEL, às 13:30h. O Prof. Francisco fará uma introdução, uma contextualização, sobre temas relacionados à psicanálise, como a agressividade na história da filosofia. O Prof. Daniel será nessa ocasião, o debatedor... o tema será: "A Violência é Natural?"
Estamos esperando por vocês! Façam suas inscrições pela nossa página www.hu.psc.br ou pessoalmente no local. Um Grande Abraço e até breve!